sexta-feira, 24 de julho de 2020

quinta-feira, 16 de julho de 2020

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quinta-feira, 9 de julho de 2020

Identidade Luterana e seus conflitos na Identificação


Rev. Edson Ronaldo Tressmann

1 - Isaías 54.2-3
Aumentar a barraca e estender as fronteiras – identificar e gerar identificação.
Colegas de ministério, futuros pastores da igreja (estagiários), pastores de outras denominações, desejo propor uma reflexão sobre a identidade Luterana e as tensões que a mesma geram ante a Identificação.
O que de fato identifica o luteranismo?
Sendo pastor no nordeste brasileiro (2005 – 2009), vi e convivi, não sei se é assim hoje, com pastores que não se mantinham presos ao uso de batina e todo tradicionalismo litúrgico com suas ordens cantadas. Ao me deparar com essa realidade, pastor recém-formado, o choque foi inevitável. Posso proceder assim? E agora, o que fazer? Apegar-se a que?
Há uma tensão inevitável entre duas forças opostas entre si: identidade e identificação. Entre essas duas forças há o anseio de manter-se fiel a identidade e conseguir identificar-se.
O que verdadeiramente me identifica como sendo Igreja Luterana? Não há identificação sem identidade.
Primeiro aspecto da identidade luterana: somos uma igreja confessional.
Nossa confissão circunda a justificação pela fé. É um arco, no qual todas as outras chaves estão penduradas. Não podemos tirar uma chave desse arco e considera-la sozinha. Qualquer chave precisa estar sempre pendurada no arco da justificação.
Certa vez fui parado numa blitz de trânsito. O policial solicitou os documentos para que eu fosse identificado. Os documentos com minha foto comprovavam a minha identificação. Apesar do óculos, o policial me reconheceu, no entanto questionou sobre o óculos se não havia essa observação na habilitação.
Será que conseguimos nos identificar mesmo havendo algum adendo?
Desde sua origem, a igreja luterana tem apresenta o verdadeiro conceito sobre igreja.
O artigo VII da Confissão de Augsburgo destaca que igreja é a reunião de todos os crentes, entre os quais o evangelho é pregado de maneira clara e os sacramentos são distribuídos de acordo com o evangelho. Sabemos onde está a verdadeira igreja!
Pelo conceito de igreja, qual deveria ser a nossa preocupação? Zelar e cuidar para a correta pregação do evangelho e a correta administração dos sacramentos. O prof. Erni Seibert conclui que o conceito de igreja tem implicações e interferências em alguns aspectos da prática missionária dentro da igreja.
No Credo confessamos: “Creio no Espírito Santo, na santa igreja cristã (católica)...” Nessa confissão, reconheço que “igreja” é um artigo de fé. A igreja crê que existe e tem um significado.
Paulo na carta aos Gálatas 1.13, escreveu “Porque ouvistes qual foi o meu proceder outrora no judaísmo, como sobremaneira perseguia eu a igreja de Deus e a devastava” (ARA). A comunidade de Jerusalém se denominava a “igreja de Deus”.
Era “igreja de Deus” não por fazer o que a lei ordenava, assim como no judaísmo se observava que precisa ser. O apostolo Paulo não a denominou como sendo igreja de Deus devido ao seus estatutos, regimentos ou estrutura. O apostolo destaca que era igreja de Deus por terem sido chamados pela graça de Deus (Gl 1.15). E a graça de Deus é oferecida e dada no evangelho e sacramentos, onde precisamos zelar. De acordo com o apostolo Paulo, a igreja de Deus são todos aqueles que vivem pela fé e não os que estão presos a regras. Diante disso, Seibert lembra a ligação entre igreja e justificação.
A prática das nossas ações missionárias mostram o quanto somos refém da estrutura. Toda ação missionária está engessada ao redor da estrutura e atividades departamentais. Transparece que sem isso, não há missão sendo realizada.
No Novo Testamento o peso institucional não era tão forte como é em nossos dias. O fato é que o conceito foi mudando a medida que mundos foram terminando e iniciando outros. Na idade média e Moderna o peso da instituição cresceu a ponto de hoje vivermos dias de denominacionalismo.
É preciso ressaltar que o crescimento da igreja trouxe consigo a necessidade de estruturação. Essa estruturação precisa ter contato com o estado e não negligenciar o contato com os pagãos. Aqui está um ponto fundamental: queremos ter contato e, não é a identidade o problema, mas a estrutura que acaba impossibilitando esse contato. (A tensão missionária entre identidade versus identificação pode ser resumida em Efésios 2.11 – 22).
Com a expansão e crescimento a igreja passou a ter necessidade interna e assim, a estruturação ficou cada vez mais importante. Diante dos conflitos internos, passou haver necessidade de preservação da unidade. Mas, onde está a unidade? A unidade passou a ser estrutural - atrelada aos presbíteros e bispos. Dessa forma, perdeu-se o elemento principal: o doutrinário. Passou a valer a palavra de homens que regiam a estrutura da igreja.
Seibert enumera que a tensão entre identidade versus identificação se deve ao fato de “externamente a igreja mantem uma eclesiologia dinâmica ou carismática, mas internamente desenvolve uma eclesiologia estrutural.
Seibert conclui que para Lutero a igreja é muito menos institucional, afinal, a mesma está estritamente ligada à Palavra e Sacramentos.
A igreja é reconhecida por sete marcas: Palavra de Deus, Sacramento do batismo, Sacramento do altar, Absolvição, Ordenação dos servos, Oração e Louvor público, Santa Cruz. Dentre essas marcas o Evangelho e os Sacramentos tem lugar especial. Lutero destacou que o estabelecimento da igreja não é por causa da instituição, mas como lugar de divulgação do evangelho.
Na Apologia da Confissão de Augsburgo, Melanchton escreveu que: ...a igreja não é apenas sociedade de coisas externas e ritos, como acontece em outros governos, senão que é, principalmente, sociedade de fé e do Espírito Santo nos corações, sociedade que possui, contudo, notas externas, para que possa ser reconhecida, a saber: a pura doutrina do evangelho e a administração dos sacramentos de acordo com o evangelho de Cristo. O conceito igreja não valoriza muito a questão estrutural, mas, sua ligação com as chamadas notas da igreja, a saber, palavra e sacramento.
Nos artigos de Esmalcalde, Lutero escreveu que até uma criança de sete anos sabe o que é igreja, a saber, os santos crentes e os cordeirinhos que ouvem a voz de seu pastor. Essa santidade não está em sobrepelizes, tonsuras, alvas e outras cerimônias, inventadas para além das Escrituras Sagradas, porém consiste na fé verdadeira.
A grande diferença entre o conceito de igreja católica romana para o conceito luterano para Seibert é que: a igreja católica romana enfatiza a igreja como estrutura externa visível sob a liderança dos bispos e do papa; a igreja luterana enfatiza a igreja como comunhão de cristãos que torna a palavra e sacramentos disponíveis sob formas comuns externas.”
As confissões Luteranas apresentam o conceito de “igreja” de maneira mais dinâmica do que estrutural, mais carismática que institucional. A atuação missionária da igreja não deve estar ocupada em estabelecer formas e estruturas, mas, anunciar a mensagem do evangelho assim como anunciada pelas sagradas Escrituras.
A verdadeira unidade é que o evangelho seja pregado unanimemente de acordo com a reta compreensão dele e os sacramentos sejam administrados em conformidade com a palavra de Deus e não que a estrutura seja a mesma (Confissão da Esperança, p.55). Os confessores ensinam que “para a verdadeira unidade da igreja cristã não é necessário que em toda a parte se observem cerimônias uniformes instituídas pelos homens.” Os confessores “combateram uma pseudo-unidade, ou seja, uma visão ilegítima da unidade da igreja, aquela visão que exige que em todas as partes se acatem e pratiquem as mesmas cerimônias instituídas pelos homens, aquela visão que exclui da unidade da igreja a quantos não aceitam ou não praticam tais cerimônias.”
Ninguém tinha o direito de os excluir e tratar como hereges por não guardarem as cerimônias humanas da igreja católica apostólica romana. A igreja não pode continuar convivendo amarrada a lugares e épocas, a pessoas e gestos, através de leis e pompas exteriores,” como requisito de fazer parte da igreja.
Para Lutero, “a unidade da igreja é espiritual e invisível e não coincide com a organização externa da igreja presidida pelo papa. A união está na voz do evangelho e pelos sacramentos, os meios pelos quais chama, congrega, ilumina e santifica toda a cristandade na terra.
O problema é que após a morte de Lutero, esse conceito de igreja não foi adotado. Nesse quesito, a IELB é mais calvinista que luterana, pois, faz distinção entre igreja visível e invisível. A igreja invisível é composta pelos que creem e a igreja visível é constituída pela palavra, sacramentos e disciplina eclesiástica. Assim, a constituição eclesiástica se tornou importante na igreja visível. As igrejas derivadas da reforma aderiram a essa característica institucional, evidenciadas pelo seu nome episcopal, presbiteriana, congregacional, Luterana, etc.
Dessa maneira se investe muito tempo para reestudar e reestruturar regimentos e estatutos numa determinada reunião do que doutrina e documentos confessionais. A tensão entre identidade versus identificação ocorre por causa dessa postura institucional e não dinâmica.
É urgente que se resgate o caráter dinâmico da igreja atrelado a justificação. Afinal, o conceito de igreja que está sendo impresso de maneira inconsciente entre os luteranos parece ser muito estranho confessionalmente falando. No livro: A Missão de Deus diante de um novo milênio, Seibert destaca que “os frutos da missão é o arrebanhamento de membros de outras igrejas para nossas fileiras. Quem não é membro da denominação religiosa passa a ser alvo de missão, assim a tarefa missionária se tornou sinônimo de pregação e propaganda denominacional.
A missão da igreja continua sendo a missão de Deus, e tem como propósito que Jesus se torne conhecido (Ef 3.10), e que em Jesus os pecadores alcancem a misericórdia de Deus (1Pe 2.10).
O que é levar Cristo para Todos?
Há outros dois fardos que levam a tensão entre identidade e identificação. Tradição denominacional e Tradição cultural.
Na tradição cultural confundimos a cultura pessoal com o conteúdo do evangelho. Na tradição denominacional fundamos uma congregação conforme o modelo estrutural da denominação e a princípio engessamos nosso agir. Ser luterano tornou-se sinônimo de estar de acordo com o estatuto, regimento e participante ativo de todos os departamentos. A igreja passa a ser valorizada como instituição e não pelo que oferece com os meios da graça. Seibert destaca que se a instituição chegar à pessoa antes do evangelho, dificilmente haverá correta identificação.
Walther disse que “pobres das pessoas que, filiadas a uma congregação cristã, se sentem rejeitadas pelo pastor e liderança em razão dos ‘pecados’ cometidos contra tais normas e para quem o evangelho é oferecido na condição de se submeterem ao grupo dominante da igreja.
A tensão missionária vivenciada na IELB não é um fator dos nossos dias. Ela é proveniente de três fatores:
1) – 1532 - a Paz Religiosa de Nuremberg (1532). Foi concedido tolerância religiosa aos adeptos da Confissão de Augsburgo, incluindo os que eventualmente a aceitassem no futuro. A consequência desse pacto é que um número de homens subscreveu a Confissão de Augsburgo não porque aceitassem suas doutrinas inequivocamente, mas porque esperavam usufruir vantagens.
2) - Tentativa de racionalização da doutrina da justificação após a morte de Lutero.
3) - A preocupação pela estruturação e essa precisa ser mantida a qualquer custo.
Ponto 2
Essa igreja dentro da missão de Deus é enviada para oferecer algo.
Pelo profeta Isaías (Is 55.11) Deus promete: “minha palavra não voltará vazia”. Como a Palavra de Deus não voltará vazia? As igrejas estão cada vez mais vazias? Para quem essa palavra não volta vazia?
A Palavra está cheia de Cristo e quem ouve essa verdadeira Palavra, estará cheio do que ela oferece: perdão, vida e salvação. Ela não voltará vazia para quem a ouve.
No processo da Reforma, Martinho Lutero, enfatiza que a igreja é uma comunhão de cristãos em torno da Palavra e Sacramentos disponiveis sob formas comuns externas. A igreja existe e persiste onde há pregação correta da Palavra de Deus e administração do sacramentos conforme essa Palavra de Deus e assim as pessoas nao voltarão vazias. A igreja têm como razão existencial o levar Cristo as pessoas através da Pregação e administração dos sacramentos para que as pessoas recebam Cristo e assim sejam salvas.
É necessário e urgente a revitalização da atividade missionária. Para isso é preciso revitalizar-se internamente. Como isso é possível? Voltando à fonte dessa herança: Confessionalidade.
Nossa herança e fonte confessional é a Bíblia, a qual dá origem ao Livro de Concórdia. Você já parou para pensar que sem a Bíblia, não teríamos Livro de Concórdia e a situação seria muito pior.
Se a igreja fosse um veículo e numa rodovia fôssemos parados numa blitz, qual identidade iriamos apresentar? E se ao apresentar essa identidade, seriamos reconhecidos mesmo com algum adendo?
O que é ser confessional?Identidade confessional” é proclamar algo de alguém para alguém outro. Ser confessional é crer e ensinar.
A nossa Identidade confessional não e o livro de 683 páginas. É, ir ao encontro das pessoas com a mensagem que não é nossa, mas daquele que é o autor da missão, Deus e que me tornou igreja.
Nossa teologia e identidade é a tentativa de interpretar a Escritura. Nossa forma básica é exegética. Por ser exegética, é preciso a chave correta para fazer a exegese bíblica como um todo. Essa chave abre qualquer tema, controverso ou não.
Althaus no livro “A teologia de Martinho Lutero” enumera que a Escritura Sagrada é a norma por excelência. O texto bíblico é uma norma teológica. Todas as decisões e toda a tradição da igreja estão sujeitas ao texto bíblico e não a sua estrutura. Dessa forma não é a estrutura que nos identifica.
Paul Althaus, escreve que o objetivo das Sagradas Escrituras é anunciar a mensagem do evangelho e não se ocupar em estabelecer formas e estruturas.
Você já percebeu o tempo utilizado para explicar como nossa estrutura funciona? Se algo acontece e coloca essa estrutura em cheque, mais tempo é gasto.
Antes das pedradas, enfatizo que não sou contra a estrutura, mas, ela precisa ajudar a divulgação do evangelho e não trabalhar para si mesma. Muitas vezes, parecemos uma empresa que precisa se estabelecer e sobreviver por si.
O professor Prunzel na apostila de Sistemática I, Introdução a teologia (2010) destaca que nossa identidade é a mensagem das Escrituras que não deixa ninguém vazio (Is 55.11).
Todas as igrejas apelam para a Escritura. Mas, elas creem no que diz a Escritura nos pontos de fé? Qual é a chave com a qual abrem e leem a Bíblia? Nossas confissões mostram o que cremos, ensinamos e confessamos. A Reforma é um evento exegético e hermenêutico! As confissões, nosso documento que nos identifica, mostra que reconhecemos assuntos controversos por estarem de acordo com a Escritura. Lemos as Escrituras em harmonia e essa leitura harmônica nos une e nos permite identificar. A estrutura é apenas um adendo. Rejeitar essa identidade é rejeitar a nossa própria razão de ser.
Na apresentação do Livro de Concórdia, na sua primeira edição em lingua portuguesa, o então presidente da IELB, Johannes H. Gedrat, ressaltou que “as Confissões Luteranas não querem e não devem ser distintivo ou sinal de um grupo separatista e ‘detentor exclusivo da verdade’. Expõe à única e verdadeira doutrina biblica e cristã de todos os tempos. Esses escritos são o esforço sincero para reunir também visivelmente num só rebanho todos os que desejam ser um em espírito e em verdade.O DNA da IELB é fazer teologia e ser missionária.
Fazer teologia é voltar às bases; ser missionária é levar a cabo a atuação teológica, levar as bases às pessoas.
Ao falar sobre levar para as bases a teologia, quero fazer uma observação. A convenção nacional da IELB, realizada entre os dias 01 – 04 de maio de 2014, em Aracruz, ES com o tema “Nossa unidade confessional a serviço da missão”. Houve duas palestras. “O desafio de ser uma igreja confessional em missão hoje;” “O desafio de preservar a identidade confessional”.
Entre os 1.658 (um mil seiscentos e cinquenta e oito minutos, 12 % do tempo), a convenção que visava reestudar sobre sua identidade dedicou apenas 190 minutos a esse estudo. Transparece que a IELB está mais ocupada em manter seu esquema estrutural atrelado a estatutos e regimentos. Tudo gira em torno da estrutura.
O DNA da IELB é fazer teologia e ser missionária.
Não basta ser uma Igreja Confessional, é necessário ser uma Igreja Confessante. Por confessante, digo, dinâmica no ensino, na confissão e no testemunho. Essa dinamicidade no ensino, na confissão e no testemunho encontra suas bases na Identidade. Fundamentado na identidade facilmente se levará a identificação.
Abraços e muito obrigado!
ERT
Edson Ronaldo TREssmann

Bibliografia
ALTHAUS, Paul. A teologia de Martinho Lutero. Tradução: Reinhold Kuchenbecker.
Editora ULBRA, 2008.

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Rehfeldt.

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em comemoração aos 475 anos da Confissão de Augusburgo.

BAYER, Oswald. A Teologia de Martim Lutero. Editora Sinodal, 2007

BECK, Nestor. La Doctrina acerca de la fe: En la Confesión de Augsburg y documentos
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Confissão da Esperança. Exposição histórica e doutrinária da Confissão de Augsburgo. Ed.
Concórdia, Porto Alegre, RS, 1980.

Culto Luterano: Liturgias e orações. Organizado e atualizado pela Comissão de Culto da
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DREHER, Martin N.. A Igreja Latino-Americana no contexto mundial. São Leopoldo:
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FRANNZMANN, M.H.. Noções de Hermenêutica Teológica. Casa Publicadora Concórdia,
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GASSMANN, Günther e HENDRIX Scott. As Confissões Luteranas: introdução. Editora
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GOERL, A. Otto. Cremos por isso também falamos. Fórmula de Concórdia. Concórdia, 1977

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LINDBERG, Carter. As Reformas na Europa. Ed Sinodal, São Leopoldo, Rs e Ed. IEPG,
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quinta-feira, 18 de junho de 2020

Desafios do ministério Pastoral

Encontros pastorais – 18.06.20
Ms. Rev. Waldyr Hoffmann

Palavra introdutória

Primeiro é um privilégio falar a um grupo tão seleto assim. Entendo, também, que tenho um grande desafio! A ideia aqui não é desconstruir o que temos, nossos valores teológicos, nossas práticas, nossas perspectivas, enquanto líderes em nossas congregações e paróquias. Partimos do ponto de vista de que temos diferentes formações e aptidões, embora tenhamos recebido a mesma formação teológica, independentemente de qual seminário da igreja estudamos, São Paulo, Porto Alegre ou São Leopoldo. O conteúdo teológico, nossa base doutrinária, nossas afirmações de fé, etc. dificilmente abriremos mão, por estarmos conscientes de suas verdades, vistas sob olhar bíblico e das nossas confissões.

O que justifica, então, o tema Desafios do ministério pastoral para nós neste momento? Significa um olhar para o horizonte, fazer uma leitura da nossa realidade e perceber que temos uma teologia sólida numa sociedade em mudança (e agora ainda mais, devido à pandemia) o que demanda uma reflexão séria, madura, a fim de continuarmos cumprindo com o nosso papel de líderes da igreja (pastores) e levar Cristo para todos.

Ou seja, estamos sinalizando para uma análise no que diz respeito à forma do cumprimento de nossa missão, a missão da igreja. Entender um pouco este processo facilitará a nossa intervenção dentro da igreja, quebrando, se necessário, paradigmas, a fim de construirmos uma abordagem do evangelho que venha ao encontro das necessidades dos nossos membros.

Nossos objetivos gerais, portanto, são estes:
  1. Atentar para as mudanças da sociedade que nos desafiam às novas demandas de ação.
  2. Refletir sobre a nossa ação se ela corresponde às expectativas da congregação.
  3. Identificar alternativas de ações que não descontruam a teologia, mas que a torna mais dinâmica e eficaz (relevante).

Pedimos, então, coragem para estudar e refletir sobre este assunto e disposição para redirecionar, se for preciso, a fim de continuar levando o genuíno evangelho de Jesus às pessoas.

A partir dos objetivos gerais abordados acima, construímos algumas expectativas para o tema, os quais destaco a seguir:

- Motivar (para que haja entusiasmo) para a auto avaliação e realização de um trabalho mais ativo;

- Facilitar uma atmosfera de credibilidade àquilo que a igreja deseja realizar;

- Capacitar tendo em vista as mudanças que estão acontecendo nas igrejas e na sociedade em geral. A igreja está consciente de sua missão? Como se dá a relação da igreja com a sociedade?

- Identificar os passos a serem seguidos.

- Fomentar o sentido de como uma boa liderança pode contribuir para todo este processo.

Ao levantar estas expectativas, o intuito é para que saiamos de uma relativa zona de conforto para a diferente realidade que está à nossa porta. Concluo esta introdução, afirmando: O pastor não deve ficar na mesmice: subir e descer do púlpito. Há muito por fazer.

1. A igreja e a pós modernidade

Uma sociedade em mudança

Já estamos em 2020 e o cenário mundial desde o início do século se caracteriza pela competitividade, serviços, tecnologia e globalização. Há uma expectativa de que 2% das pessoas viverá de agricultura, 22% viverá do setor industrial e 30% viverá de serviços. As mudanças serão rápidas e profundas em todos os sentidos. Em 10 anos estaremos utilizando 50% de bens e serviços que ainda não foram inventados. Há uma expectativa muito grande quanto ao que vai acontecer pós pandemia. Os produtos de hoje ficarão rapidamente obsoletos. Vamos pensar um pouco o que significa estes últimos 15 anos (Fitas, CD’s, DVD’s, Pendrive, HD, etc.). Como sobreviver numa época de mudanças rápidas e de grande impacto na sociedade? Falta-nos uma estrutura para interpretarmos o que está acontecendo. A tecnologia veio para ficar e não temos tempo para processar tudo isso. Ou nós entendemos e administramos de maneira adequada ou seremos dominados por ela.

Por isso uma reflexão consciente sobre este tema nos dará nortes em relação ao amanhã. Ao olharmos rapidamente para o significado do PASSADO PRESENTE FUTURO, concluímos que...

  • É muito importante o presente, onde nos encontramos.
  • A nossa realidade está no aqui e agora.
  • O passado já passou.
  • O futuro no qual prosseguiremos, será decidido hoje.
  • A nossa única certeza estável é que tudo vai mudar.
  • Os próximos 5 anos vão mudar mais do que os 30 anos passados.

Então, perguntamos: o que acontecerá no futuro? Ou melhor, quando começa o futuro? Pensemos no mundo de 2030. Isto nos remete a uma análise do nosso comportamento diante das demandas que estão por vir.

Teremos que deliberar sobre três coisas:

1ª o que é essencial – é o que devo fazer imediatamente. É o prioritário. É o que deve ocupar a minha maior atenção.
2ª o que é importante – é tudo aquilo que devo fazer, depois de haver feito o que é essencial.
3ª o que é acidental – é tudo aquilo que devo fazer, depois de haver feito o que é importante.

Precisamos estabelecer hoje o que vamos fazer de essencial em nossas vidas e em nossa profissão. A questão é de valor. O que devo atacar primeiro? Como líder, o pastor deve confrontar o problema. Devo convocar a igreja (convencer) para as mudanças necessárias. A igreja deve planejar.

Penso que o assunto é bem mais complexo do que imaginamos. Lidamos com pessoas com perfis diferentes. Mas, ao mesmo tempo, lidamos com o sagrado, conteúdo divino, que é a razão primeira do ser igreja. Diante disso levantamos questões, como exemplo: Quero que a igreja cresça? Quantas novas pessoas? Outra questão: Como lidar com a Mordomia cristã? Fazer um fórum de mordomia, um curso é suficiente? O que eu quero para a minha congregação? Para a minha realidade de trabalho? Por isso é fundamental um bom planejamento, partindo da comunidade. Estabelecer metas (alvos) e estar preparado para os percalços que também vão acontecer.

Qual o propósito, a missão da nossa igreja? Por que existimos? Vou usar a sigla PESCAR neste momento. Ela sinaliza a refletir sobre as funções da igreja, que já fazem parte do nosso entendimento. A igreja está consciente dos valores, visão e de sua missão? O princípio é a verdade, a Bíblia. Vejamos, então...

1ª missão: Pregação (P) – o crescimento da igreja depende de como isto é encarado.
2ª missão: Ensino (E) – cada igreja tem a sua estratégia. Os professores devem estar preparados.
3ª missão: Serviço (S) – a partir da necessidade de dentro para fora. – diaconia.
4ª missão: Comunhão (C) – através do culto (koinonia). Deve ser muito bem elaborado.
5ª missão: Adoração (A) – a igreja é lugar para louvor.
6ª missão: Reconciliação (R) – o homem com Deus. Uma nova criatura.

Sempre temos oportunidades para refletir sobre as funções da igreja. Temos um bom material sobre este assunto. Mas, eu pergunto: como nós, pastores, lidamos com isso? Qual a energia que dispensamos sobre estas funções? Penso que não há como enfatizar uma função em separado das outras, enfatizando mais uma do que outra, porque elas se inter-relacionam. Enquanto “departamentalizamos” as funções da igreja, nós fragilizamos a sua ação (um corpo precisa funcionar integralmente). A impressão é de que burocratizamos o planejamento com muitas ações e nos frustramos por não atingirmos os alvos.

A igreja está preparada para as mudanças? Ela continua sendo uma instituição estruturada e capacitada, para servir as pessoas... de dentro, de fora. Ponto final. A igreja local é a reunião das pessoas salvas. Por isso, dar de si antes de pensar em si é o princípio cristão que vai reger a ação da igreja.

Características da pós modernidade

As mudanças na sociedade atual são visíveis a todos. São transformações rápidas e significativas em todos os setores da sociedade e nos afetam nas áreas social, econômica, cultural e religiosa, refletindo no nosso modo de pensar, agir e nos comunicar. Esta era que estamos vivendo, chamada de pós modernidade (alguns até chamam de pós-pós), iniciou na década de 50 e ganhou um impulso na década de 70. É um período que se caracteriza pela invasão da tecnologia eletrônica, da automação e da informação. Dentro desta “invasão da informação”, um fato que nos chama a atenção em especial são as mídias (redes).

E neste contexto está a igreja. Como ela lida com o ensino, por exemplo? O modelo educacional, ao que parece, contrapõe ao modelo de educação cristã, desenvolvido pela igreja. Lidamos com verdades absolutas sobre pecado, graça, queda, perdão, salvação, etc., as quais são inquestionáveis. O desafio é ensinar a um público que lida com outro referencial teórico no seu dia a dia, caracterizado pelo construtivismo e relativismo. Tornar a mensagem relevante nestas situações deve demandar uma leitura adequada da realidade em que vivemos e construir o pensamento junto com o indivíduo. Uma pergunta para reflexão: precisamos nos adaptar a esta realidade, assumir este modelo educacional, construir a reflexão teológica junto com o indivíduo, ou vamos manter um padrão tradicional de ensino e educação cristã?

As mudanças na sociedade requerem do indivíduo uma adaptação. Novos paradigmas surgem, o que sinaliza novos formas de intervenção. O sujeito vai se adaptando em meio às suas necessidades, mesmo que para isso tenha que romper com suas tradições e cultura. Não se trata apenas de um paralelismo, usar uma linguagem similar, mas de adesão a novos elementos que vão compondo ao novo modelo de sociedade, que continua sendo mutante de uma forma bem acelerada, assumindo nova roupagem num curto espaço de tempo. São os novos paradigmas sendo formados.

Como exemplo disso, podemos citar a família atual que é bem diferente do passado. O processo educativo no lar mudou. Também mudou na escola. E a igreja, como lida com isso?

Outro exemplo: Os trabalhadores de hoje também têm uma rotina diferente do que tinha no passado. Seus desafios, dramas, mercado de trabalho, tudo isso fez com que tomassem novos rumos em sua forma de trabalhar, inclusive sendo impulsionados a buscarem por uma formação mais adequada, o que envolve tempo, dinheiro e novas relações com a família e também com a igreja.

Podemos, então, resumir as características da pós modernidade, no que segue: indiferença, relacionamentos superficiais, consumismo, relativismo (O problema da “relativização” é que evangelizar é pregar o absoluto. Por exemplo, salvação só em/através de Jesus Cristo. Isto é absoluto, não se negocia. Entretanto, o que estamos vivendo agora neste século o que se prega é que tudo é relativo), antropocentrismo.

Como vemos, então, o homem e a mulher do nosso tempo dentro deste contexto da pós modernidade? Observamos características de ateísmo, materialismo, satanismo, ceticismo, o endeusamento do homem (o corpo, as emoções, o sexo, a sabedoria). Este é o ser humano a ser alcançado pela pregação do Evangelho.

Não podemos nos esquecer de que o homem é o mesmo de todos os tempos. Ele adquire novas concepções de certo e errado à medida que o tempo passa. A própria sociedade é responsável por colocar novos valores para a modernidade e o indivíduo vai agregando estes valores à sua vida e neste sentido o desafio para a evangelização é ainda maior, tanto por parte da igreja como dos cristãos individuais.

A igreja na cidade

As estatísticas revelam que mais de 80% da população brasileira está morando em centros urbanos, independentemente se em grande ou pequena cidade. A cultura da cidade, acompanhada ao movimento dos avanços tecnológicos, bem como as facilidades dos bens de consumo, tem deixado o indivíduo diante de muitas opções. Suas escolhas passam a ser a partir daquilo que lhe dá maior prazer. Então ele prefere ficar 2hs no cinema, com as cadeiras especiais, sem ter que se envolver com nada do que ficar 1 h na igreja, sentado naqueles bancos duros, abrir o hinário, etc. Ou, como o ser humano já é mais individualista, ele escolhe atividades que possa usufruir sozinho ou com um grupo seleto de amigos. A experiência da comunidade não lhe atrai. Ele aparece quando há um batizado, confirmação, casamento ou mesmo um velório, mas não se identifica muito.

Mas o indivíduo da cidade também tem seus dilemas. O próprio êxodo de pessoas em busca de alternativas para sobrevivência contribui para uma concentração excessiva de pessoas, muitas sem preparo, escolaridade, profissão ou condições mínimas de sobrevivência digna na “metrópole” que assusta, intimida, mas, pelo menos por um tempo, parece ser a melhor alternativa, pois isso envolve sonhos, expectativas e esperança.

O desafio para a evangelização na cidade exige boa percepção e qualidade da ação pastoral e da igreja, pois o contexto urbano é muito inconstante, o público é muito diverso, com particularidades que precisam ser levadas em conta. É necessário quebrar a indiferença e procurar responder com seriedade às angústias e clamores das pessoas em vista de novas possibilidades de vida digna e solidária.

O ministério do futuro

Diante disso como pensar o ministério pastoral dentro do contexto atual e futuro? Esta, talvez, seja a maior questão que precisamos refletir, resolver e redirecionar nossas ações, se for preciso. A mensagem sempre deverá ser relevante, especialmente quando estamos diante da realidade onde a maioria tem acesso à informação. Numa fração de segundos o indivíduo tem acesso a milhões de informações sobre qualquer assunto. Como a maioria tem e usa internet, isso se torna muito rápido.

Alguns aspectos precisam ser refletidos. Vamos a eles:

  • Bíblia online – pedimos para desligar o celular na igreja, mas as pessoas não carregam mais a Bíblia. Tem online. Entramos numa crise pessoal porque acreditamos que o valor está na letra, no livro em si. Imaginamos que se você manuseia algo, terá mais chances de entender melhor.
  • Mensagens / culto online – Todos estamos vivendo este desafio e este é um campo que precisa ser analisado. Os cultos online (antes da pandemia) surgiram a fim de preencher o vazio de muitos que não acreditam na igreja como organização, mas que continuam tendo sua fé em Jesus. O que torna diferente para nós estar na igreja (templo), no espaço de culto e estar diante de uma tela de computador/celular? Como será isso após a Pandemia?
  • Instrução online – no corre-corre onde as pessoas têm pouco tempo, devido as condições de trabalho, seria este um caminho para instrui-las na fé? Seria possível fazer estudo bíblico online com membros da igreja? ou instrução de adultos? E confirmandos? Hoje isto é uma prática, devido ao contexto de pandemia. Mas, é conveniente que continue depois?
  • Reuniões virtuais. Estamos lidando com assuntos relacionados ao andamento da igreja. Até onde podemos exercitar parceria, comunhão?
  • A tecnologia veio somar? Ou tomar o lugar? Ou veio acomodar?

O ministério do futuro está tão próximo quanto o minuto seguinte. As demandas requerem uma atenção especial e urgente. Precisamos sinalizar para onde vamos e até que ponto estamos prontos para romper com paradigmas até então cristalizados. Ao mesmo tempo precisamos nos perguntar se vale a pena e se a igreja está preparada para isto, especialmente os seus pastores.

Diante da proposta em refletir sobre o ministério do futuro, cabe-nos refletir sobre o nosso entendimento de comunidade hoje, mesmo que seja de forma utópica. A sociedade nos dias atuais tem se caracterizada pela construção da individualidade. Mesmo que teoricamente se tenha a consciência de que o indivíduo necessita um do outro, os avanços tecnológicos e midiáticos têm feito um contraponto a esta necessidade de se viver junto, compartilhando das mesmas coisas. Em seu lugar, especialmente em razão da busca pela sobrevivência, somos levados a viver sozinhos diante das máquinas, sejam estas industriais, de comunicação e entretenimento entre as pessoas.

Diante deste quadro está a igreja que tem como proposta agregar, partilhar experiências de fé e vida e o faz através de suas atividades, sejam elas de culto, estudo bíblico ou outros grupos.

Afinal, o que é comunidade? De que assunto estamos tratando? Desde que o indivíduo se entende como gente ele vive em grupo. Hoje vemos muitos tipos de comunidades, inclusive virtuais. São pessoas que curtem os mesmos ideais, tem os mesmos propósitos e vivem de acordo com as regras estabelecidas. Aliás, são as regras que vão indicar quem está ou não inserido naquela comunidade.

2. Diagnosticando a partir da nossa práxis

Desafios para os temas atuais; uma leitura contextual

A comunidade vai se adaptando ao seu tempo ou mesmo construindo novos paradigmas para as gerações futuras. Ao lançar os novos alicerces daquilo que é novo, isso indicará o rumo no qual esta sociedade está seguindo. Seria isso um evoluir da sociedade ou uma adequação ao seu tempo? Esta questão remete ao questionamento de como a sociedade é influenciada ou se torna protagonista das transformações trazendo novos temas a serem estudados. São novos valores e conceitos, somados ao desenvolvimento natural do ser humano que no seu intelecto vai descobrindo novas possibilidades de se viver.

O que está claro, no entanto, é que os novos desafios para a sociedade abrangem toda a esfera humana e condiciona o indivíduo a buscar por respostas às questões levantadas. Estes questionamentos fazem parte de um processo natural para o indivíduo e não existe respostas pela metade.

Nossas estatísticas

Se observarmos os relatórios estatísticos da IELB temos o seguinte percentual:
Em cultos – 32%, significa 68 % ausentes.
Em Santa Ceia – 26,3%, significa 73,7 % não participantes.
Em estudos bíblicos – 3,8% (do total de membros) – 96,2% não participa.
Jovens - ? Servas - ? Crianças - ? Leigos - ?

Lembrando que estes grupos são as “comunidades”. O que efetivamente acontece para que este número seja tão baixo? Mensagem irrelevante? Sintomas da pós-modernidade? Quais são os reflexos disso na vida das pessoas? Das famílias? Da igreja? Como pastor, quais tem sido nossas estratégias para aumentar este percentual?

Minhas argumentações:

Podemos fazer várias leituras sobre este assunto, mas precisamos ser honestos em admitir também nossas lacunas como dirigentes espirituais.

Um princípio básico sobre o nosso chamado ao ministério pastoral e nossa ação na busca pelos ausentes: Começa em Deus, através de nós.
  1. Ele chamou Moisés e disse: vai livrar o meu povo...
  2. Deus chamou Isaias... Jeremias... Jonas... e os enviou.
  3. Jesus chamou os doze...
  4. Deus chamou Paulo...
  5. Deus chamou a mim... você.
Diz a Bíblia que eles são “como ovelhas sem pastor”.

E quanto a nós, Deus nos capacitou com dons e formação.

Somos servos, despenseiros, recebemos o ministério da reconciliação.

Somos os sacerdotes do século 21, diante de Deus. Ele não esqueceu desta gente. Ele mandou a nós.

Ser pastor, antes de ser profissão, é chamado divino. Lidamos com o sagrado, com questões espirituais.

Nós nos perdemos quando queremos governar a igreja, como lideres, materialmente falando.

Levando em conta o grande número de ausentes (estatística), afirmamos:

Na parábola da ovelha perdida (Lc 15.3-7) eram cem ovelhas, uma faltou. Noventa e nove ficam no aprisco e o pastor foi em busca da que se perdeu e ficou feliz em trazê-la de volta. As noventa e nove estavam seguras. Uma estava em perigo. Teoricamente, quem vem ao culto regularmente, participa da Santa Ceia, está seguro. Mas quem está afastado, está em perigo. Isso motiva o pastor em busca-la. As estatísticas são um reflexo de quantas estão em perigo.

Não temos como nos cansar. Elias esmoreceu. Deus até enviou pássaros para alimentá-lo (1 Rs 17.1-7). Os discípulos, após uma noite frustrada em sua pescaria, esmoreceram, mas Jesus disse: Joga as redes novamente (Lc 5.1-11). Os pastores esmorecem, mas Jesus diz: Ela está se perdendo. Vai de novo em sua busca.

Temos muito a fazer, alguns afirmam. Mas nós fomos vocacionados e chamados por Deus a princípio não para escrever um sermão ou estudo bíblico, mas para buscar a ovelha perdida. Isto é o ministério pastoral.

Os baixos percentuais da participação há muito tempo estão no mesmo patamar, o que significa, também, que há muito tempo estamos usando estratégias que não estão dando resultado ou não estamos cumprindo com a nossa função: a de ser pastor, não da igreja (denominação), mas de ovelhas. O nosso foco não está na organização, mas em pessoas. Parafraseando Mt 24.1,2: “Que belas construções!” (dimensão material). Jesus responde: “Derrubo e levanto em três dias” (dimensão espiritual). Este é o foco de Jesus.

No nosso cotidiano nos queixamos, afirmando: “quando a bomba estoura, você procura o pastor”. Se nós somos os últimos a saber é possível que não temos acompanhado passo a passo da ovelha. Um pai que tem a notícia ruim de seu filho é porque não o acompanhou mais de perto.

Talvez você vai dizer: é impossível isto. Como posso acompanha-lo de perto? Ingenuidade! Seu pensamento é igual ao de Moisés que quer fazer e julgar tudo. Foi necessário o seu sogro, Jetro, adverti-lo e sugerir que nomeie auxiliares (Ex 18). Talvez aqui o Jetro seja eu dizendo a você (e a mim mesmo): nomeie auxiliares.

Podemos mapear estratégias em como acompanhar as ovelhas de perto: Telefone, E-mail, Watsapp, Facebook, Instagram, Visitas pastorais, Visitas por outros membros, Apadrinhamento – jovens, casais, novo membro, etc., Receber/cumprimentar as pessoas quando chegam ao culto, Lista de aniversariantes, Atenção aos enfermos, idosos, Etc.

3. Possibilidades de intervenção

Papel da liderança

Nesta área de intervenção, após uma análise de conjuntura social, cultural e religiosa, voltamos ao princípio básico que é o da liderança eficaz. De tempos em tempos somos levados a repensar o nosso modelo de liderança. Novos líderes surgem e trazem consigo expectativas no seu modo de agir, também os seus valores e acúmulos. Lembrando que a maioria dos líderes de hoje é formado por pessoas ainda muito jovens, que cresceram dentro deste contexto de mudança rápida. Em alguns momentos isso até gera tensões. Pastor e liderança perdem de vista o anúncio do evangelho, acusando-se mutuamente, onde os dois grupos, ao que parece, têm o seu valor e contribuição. Afinar o discurso e a prática parece ser imprescindível visando o bem da comunidade, tornando-a relevante para o seu tempo.

O líder, portanto, tem a função de planejar, executar e avaliar. Para a sua liderança precisará, naturalmente, de habilidades:
  • Técnica – não podemos ter pessoas medíocres – palavra, música, motivacional, etc. O treinamento visa dar qualificação técnica.
  • Humana – relacionamento interpessoal. Como é sua personalidade? É bom buscar o equilíbrio.
  • Conceitual – saber fazer uma leitura do seu tempo, valores da moral, ética, etc.

O novo paradigma da administração voltada para o futuro tem como característica...
  • Tanto na teoria quanto na prática, ela deve definir os resultados que espera alcançar e, depois organizar os recursos visando obter esses resultados.
  • Manter a equipe motivada e comprometida durante suas realizações.

O líder tem consciência de sua vocação. Há um ditado que diz: O segredo dos que triunfam são os que sempre começam de novo. Por isso, não se esqueça de que quando você der orientações às pessoas, quando desafiá-las a usar os seus talentos e lhes der autonomia para atingir a meta, você contribuirá para alcançar os seus objetivos (o sucesso).

Que mudança almejamos?

Esta pergunta se torna relevante a partir do momento em que percebemos que há um movimento na direção de mudanças. Insistir num modelo que supostamente não garante mais bons resultados é decretar a falência da prática teológica. Manter um paradigma, se este não corresponde mais ao momento atual, é “malhar em ferro frio”. O resultado é um ministério sem desafio, sem vida e que facilmente leva o indivíduo à frustração. O ministro sofre e a igreja caminha na mesma direção. Que mudanças almejamos?

Primeiramente a nossa! De tempos em tempos somos levados à reflexão sobre como encaramos o ministério pastoral. Por isso levanto tópicos para reflexão:
  • Vida devocional
  • Vida familiar
  • Descanso / lazer
  • Nosso tempo
  • Nosso preparo das atuações
  • Nossa formação
  • Como encarar o ministério pastoral.
  • Qual a nossa intimidade com Deus? Afinal somos sacerdotes, profetas, pastores...
  • Nossas leituras (literatura)

Somente depois de refletir sobre como encaramos a nossa vocação pastoral (sacerdotal) é que podemos pensar sobre as mudanças em relação à congregação. Elas dependem de um posicionamento nosso. Destaco:
  • Equipar – formar liderança
  • Se inovar, sem medo
  • Mudar a estrutura, se necessário.
  • Dar tempo ao tempo.

Então, como exemplo, como podemos nos posicionar a respeito de alguns assuntos?
  • Liturgia – um novo modelo, no telão, muitas imagens, mesmo conteúdo?
  • Sermões - uma vez que estamos no tempo com muitas atividades, é prudente nos acomodarmos ou podemos fazer diferente? Nossas mensagens são técnicas, teológicas e estruturadas. Mas, elas são relevantes? Tocam o coração das pessoas?
  • Cultos – duração, horários, etc.

Considerações finais

Com o tema Desafios do ministério pastoral, o objetivo é despertar os pastores a refletirem e se posicionarem diante da realidade atual da sociedade em que vivemos. Tenho consciência de que os padrões teológicos e confessionais são imexíveis, mas a forma de como eles são “entregues” à igreja vai depender da habilidade do pastor, levando em conta a sua leitura e análise de conjuntura.

Não precisamos ter medo de mudar paradigmas cristalizados. O evangelho é para ser relevante a todos, conforme Paulo afirma: “Sou um homem livre; não sou escravo de ninguém. Mas eu me fiz escravo de todos a fim de ganhar para Cristo o maior número possível de pessoas” (1 Co 9.19).

Acredito que chamar a nossa liderança para uma reflexão e planejar juntos é mais do que uma orientação, é um habitus practicus que vai sinalizar positivamente para onde vamos e construir juntos o caminho em como chegar lá.

Finalizo como poema Pensamentos (para refletir):
Vigie seus pensamentos, porque eles se tornarão palavras;
Vigie suas palavras, porque elas se tornarão atos;
Vigie seus atos, porque eles se tornarão seus hábitos
Vigie seus hábitos, porque eles se tornarão seu caráter
Vigie seu caráter, porque ele será seu destino”
Poeta anônimo americano.

Explicação

Entendam

Por que inscrições pra cada reunião? Porque pode ser que você não possa no dia que foi programada a reunião. Pode ser que o tema não te inte...